Entendo a Aliança como uma iniciativa correta e necessária
no meio cristão brasileiro. Não apenas por buscar a unidade, mas por fazer isso
numa visão de missão que busca encarnar o reino na vida do povo e da sociedade
em que estamos inseridos. Entretanto, a partir de alguns pronunciamentos e
ações cada vez menos espaçados, percebo que a própria percepção de reino da
aliança tem limitações preocupantes, sobretudo no que tange o momento político
que estamos vivendo.
Dois fatos me preocupam pelo que sinalizam: tanto algumas
pastorais quanto, sobretudo, o apoio à campanha do MPF contra a corrupção. Uma
iniciativa como a criação da Aliança exige, claro, ousadia, mas também,
sabedoria e prudência, pois não se deve construir uma torre sem que se tenha os
recursos para terminá-la. Neste caso, os recursos a que me refiro são a clareza
da visão do reino, as consequências dessa visão em cada aspecto da vida e da
sociedade, a coerência de se manter alinhado à verdade, e a capacidade de
discernir a verdade a partir do contato com a realidade.
Neste sentido, é
imprescindível não agirmos de forma ingênua, mas além da pureza das pombas,
exercitarmos a sagacidade das serpentes, papel exercido de forma perfeita por
Cristo que, sendo puro e sem malícia, ainda assim percebia as más intenções dos
fariseus e mestres da lei e denunciava suas mentiras. Jesus não se deixava
ludibriar pelo senso comum dos religiosos. Da mesma forma é extremamente
importante que a direção da Aliança não se deixe levar pelo senso comum criado
e direcionado pela mídia e seus interesses escusos.
O uso do tema corrupção
pela mídia e pelo MPF não é sincero, mas claramente político, de modo a
prejudicar governos trabalhistas cujas conquistas são absolutamente
inquestionáveis. Não estou alegando a não existência de corrupção no partido A
ou B, mas o fato de se direcionar deliberadamente os holofotes, as
investigações e a execração a apenas um lado; o alvo não é a corrupção, mas a
tomada do poder. Fosse o combate à corrupção o real interesse da mídia e do
MPF, todos seriam atingidos de forma indiscriminada, e não apenas um espectro
político.
Meu alerta reside em três pontos:
1) na ânsia por fortalecimento da
instituição para além dos limites legais, por razões políticas, e para atender
ao "clamor do povo", o MPF propõe, dentre as iniciativas de lei
“anti-corrupção” algumas de caráter claramente fascista, como as prisões
preventivas por razões que se apoiam em elevado grau de discricionariedade e
subjetivismo, o que abre as portas ao arbítrio, ao achaque e à perseguição para
fins políticos, algo que já vem sendo posto em prática hoje, mesmo sem amparo
legal.
2) O simples fato de a diretoria da Aliança ter colocado a duvidosa
campanha no site, demonstra seu grau de ingenuidade e capacidade de ser guiada
pela mídia, assim como o próprio MPF o é. A Aliança não parece ter se
perguntado porque existe uma campanha contra a corrupção e nenhuma contra a
sonegação, que desvia infinitamente mais do erário, como alerta a Receita
Federal? O MPF também não fez esse questionamento e embarcou no combate a
corrupção porque, assim como a Aliança, age ingênua e acriticamente, sendo
levado facilmente de um lado para outro pela mídia formadora de consensos.
Diferente do MPF, a Aliança tem um norte e uma bússola para orientar na
caminhada e não deveria cair nos mesmos erros.
3) A situação atual do país não
permite omissões, e a Aliança deveria se posicionar com ousadia e sabedoria,
orientada pelo Espírito e pela Palavra, espada que discerne motivos e intenções
escondidos por trás de discursos bonitos e cheios de aparentes boas intenções.
Não apoio a hipócrita, parcial e temerária campanha do MPF,
que ávido pelos holofotes e guiado por uma visão elitista da sociedade,
atropela a lei e ameaça garantias constitucionais com propósitos políticos e
corporativistas.
Humildemente sugiro a leitura de Noam Chomsky e seus livros
sobre o poder e as táticas da mídia para formação de consensos na sociedade,
consensos esses que na vasta maioria das vezes servem de instrumento para a
manutenção da injustiça, do erro e dos privilégios na sociedade.
O grande avanço no combate à corrupção se deu nos últimos
governos trabalhistas, com o estabelecimento da CGU, a estruturação e
fortalecimento da PF, e a criação de várias leis anti-corrupção, leis estas que
vêm sendo utilizadas inclusive na midiática, ilegal e duvidosa operação
lava-jato.