quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pais e filhos

Quando eu era filho em companhia de meu pai, então ele me ensinava e me dizia: Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos e vive. Pv. 4: 3,4.

Filhos rebeldes, desrespeitosos, afastados de Deus, sendo seduzidos pelo mundo é algo que sempre existiu e que nunca deixou de ser alvo da angústia paterna e materna. No entanto, faz-se necessário diferenciar quando os problemas com os filhos surgem em lares cuja educação procura refletir a Cristo e a palavra de Deus, de quando os problemas são fruto de incoerência, de mau exemplo, de uma disciplina descuidada, frouxa, que despreza a Sabedoria (Sl. 19:7). No primeiro caso, o problema surge apesar da criação, já no segundo, por causa dela.



Infelizmente, tem se tornado uma cena comum hoje em dia testemunhar crianças - de todas as idades - responderem aos pais, aos avós, ofendendo-os, sem serem repreendidos ou disciplinados. Tem sido usual até mesmo a inversão de papéis, com os filhos mandando nos pais, determinando as suas vontades, quando e como as querem ver atendidas. É triste ver que muitos pais, desprezando diariamente o fiel testemunho cristão para com seus filhos - omitindo a disciplina e a repreensão (Pv. 3:12; 13:24)-, procuram ensinar-lhes cacoetes religiosos, mandamentos de homens (Mc. 7:13; Is. 29:13), com entusiasmo inverso àquele que usam para dar aos seus filhos um exemplo de relacionamento profundo, verdadeiro e sincero com o Senhor.

Um pequeno exemplo que serve para ilustrar o equívoco cometido por muitos pais é o uso de nome de Deus em vão. Algo que seria impensável dentro da comunidade cristã há quinze, vinte anos atrás, hoje se tornou corriqueiro entre os crentes de todas as idades, homens, mulheres e sacerdotes (os institucionais e todos nós, como parte do corpo de Cristo). É como se o mandamento tivesse sido apagado da Palavra, como se Jeová, o Redentor, o Santo de Israel (Is. 48:17) não precisasse mais ser alvo da nossa reverência e temor. Pais que dão exemplo em casa e na rua têm muito mais condições de verem suas instruções obedecidas pelos filhos do que aqueles que são incoerentes.

Saindo da infância e analisando da pré-adolescência à vida adulta, percebe-se que o exemplo e a coerência paterna (pai e mãe), em existindo, abrem as portas para outras ações que ajudam bastante no amadurecimento de um lar cristão saudável. Duas dessas ações são a abertura dos filhos para com os pais e a possibilidade de o filho ver-se desafiado em sua vida a realizar um propósito eterno.

Aqui, o exemplo do rei Lemuel - explicitado no último capítulo de Provérbios - é emblemático. Nele, vemos que os conselhos de sua mãe não apenas alertam o rei sobre situações e hábitos que podem levá-lo a esquecer-se do querer de Deus, mais principalmente o impulsionam à ação, o impedem de seguir no imobilismo e na falta de sentido, os quais são porta aberta para as tentações, as quedas e o conseqüente distanciamento de Deus.

Abre a boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados. Abre a boca, julga retamente e faze justiça aos pobres e aos necessitados.
Pv. 31:8,9

O exemplo de Lemuel e sua mãe nos mostra a importância de um viver cristão que vai além do pietismo, que atenta para a Palavra sem seletividade, que se enxerga como agente transformador do mundo, para a Glória de Deus. A tarefa de fazer o mundo refletir os valores do Reino está sobre nós, Corpo de Cristo e a percepção desta enorme responsabilidade, sobretudo diante de uma realidade de injustiça, miséria e opressão como a que temos à nossa volta, faz com que nossos pensamentos, palavras e ações estejam voltados para cumprir a vontade de Deus na terra em todo o tempo.

Assim, focados no que realmente importa, pondo-nos como obstáculo a todo o mal (Pv.8:13), e sem nos escondermos do nosso semelhante (Is. 58:7; Pv. 3:27), percebemos que pensamentos sombrios, tentações, fraquezas e desilusões empalidecem, não deixam de existir, mas perdem a força e a importância de outrora. Diante de uma vida de oração, amor pela palavra (Sl. 119:16-19), e ação que transforma a si próprio, ao próximo, e à realidade em seu entorno, as possibilidades de se deixar enlaçar decrescem na mesma proporção em que o relacionamento com o Pai amadurece. Filhos que antes seriam tentados a tomar a forma deste século passam a se perceber como revolucionários de Deus, atuantes incansáveis na vivência e construção do seu Reino. O propósito transformador dá o tom de uma vida plena, em Cristo.

O exemplo dá mais poder à palavra, a sabedoria (apesar de exigir dos pais paciência e fé) é mais eficaz que o legalismo, o cumprimento do grande mandamento inspira, impulsiona e renova, enquanto que a alienação traz amargura, desnorteia, desanima e enfraquece.

Esta reflexão foi escrita por alguém que foi sempre disciplinado com amor, por amor e no amor, e que percebe os benefícios trazidos por essa disciplina fruto do temor dos pais pelo Senhor; alguém que aprendeu com os próprios pais a não colocar nada antes de Deus, nem mesmo os filhos. E que, por isso mesmo, pode hoje alegrar-se com a bendita herança espiritual recebida.