quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Sugestão à Aliança

Entendo a Aliança como uma iniciativa correta e necessária no meio cristão brasileiro. Não apenas por buscar a unidade, mas por fazer isso numa visão de missão que busca encarnar o reino na vida do povo e da sociedade em que estamos inseridos. Entretanto, a partir de alguns pronunciamentos e ações cada vez menos espaçados, percebo que a própria percepção de reino da aliança tem limitações preocupantes, sobretudo no que tange o momento político que estamos vivendo. 
Dois fatos me preocupam pelo que sinalizam: tanto algumas pastorais quanto, sobretudo, o apoio à campanha do MPF contra a corrupção. Uma iniciativa como a criação da Aliança exige, claro, ousadia, mas também, sabedoria e prudência, pois não se deve construir uma torre sem que se tenha os recursos para terminá-la. Neste caso, os recursos a que me refiro são a clareza da visão do reino, as consequências dessa visão em cada aspecto da vida e da sociedade, a coerência de se manter alinhado à verdade, e a capacidade de discernir a verdade a partir do contato com a realidade. 
Neste sentido, é imprescindível não agirmos de forma ingênua, mas além da pureza das pombas, exercitarmos a sagacidade das serpentes, papel exercido de forma perfeita por Cristo que, sendo puro e sem malícia, ainda assim percebia as más intenções dos fariseus e mestres da lei e denunciava suas mentiras. Jesus não se deixava ludibriar pelo senso comum dos religiosos. Da mesma forma é extremamente importante que a direção da Aliança não se deixe levar pelo senso comum criado e direcionado pela mídia e seus interesses escusos. 
O uso do tema corrupção pela mídia e pelo MPF não é sincero, mas claramente político, de modo a prejudicar governos trabalhistas cujas conquistas são absolutamente inquestionáveis. Não estou alegando a não existência de corrupção no partido A ou B, mas o fato de se direcionar deliberadamente os holofotes, as investigações e a execração a apenas um lado; o alvo não é a corrupção, mas a tomada do poder. Fosse o combate à corrupção o real interesse da mídia e do MPF, todos seriam atingidos de forma indiscriminada, e não apenas um espectro político. 
Meu alerta reside em três pontos: 
1) na ânsia por fortalecimento da instituição para além dos limites legais, por razões políticas, e para atender ao "clamor do povo", o MPF propõe, dentre as iniciativas de lei “anti-corrupção” algumas de caráter claramente fascista, como as prisões preventivas por razões que se apoiam em elevado grau de discricionariedade e subjetivismo, o que abre as portas ao arbítrio, ao achaque e à perseguição para fins políticos, algo que já vem sendo posto em prática hoje, mesmo sem amparo legal. 
2) O simples fato de a diretoria da Aliança ter colocado a duvidosa campanha no site, demonstra seu grau de ingenuidade e capacidade de ser guiada pela mídia, assim como o próprio MPF o é. A Aliança não parece ter se perguntado porque existe uma campanha contra a corrupção e nenhuma contra a sonegação, que desvia infinitamente mais do erário, como alerta a Receita Federal? O MPF também não fez esse questionamento e embarcou no combate a corrupção porque, assim como a Aliança, age ingênua e acriticamente, sendo levado facilmente de um lado para outro pela mídia formadora de consensos. Diferente do MPF, a Aliança tem um norte e uma bússola para orientar na caminhada e não deveria cair nos mesmos erros. 
3) A situação atual do país não permite omissões, e a Aliança deveria se posicionar com ousadia e sabedoria, orientada pelo Espírito e pela Palavra, espada que discerne motivos e intenções escondidos por trás de discursos bonitos e cheios de aparentes boas intenções.
Não apoio a hipócrita, parcial e temerária campanha do MPF, que ávido pelos holofotes e guiado por uma visão elitista da sociedade, atropela a lei e ameaça garantias constitucionais com propósitos políticos e corporativistas.
Humildemente sugiro a leitura de Noam Chomsky e seus livros sobre o poder e as táticas da mídia para formação de consensos na sociedade, consensos esses que na vasta maioria das vezes servem de instrumento para a manutenção da injustiça, do erro e dos privilégios na sociedade.

O grande avanço no combate à corrupção se deu nos últimos governos trabalhistas, com o estabelecimento da CGU, a estruturação e fortalecimento da PF, e a criação de várias leis anti-corrupção, leis estas que vêm sendo utilizadas inclusive na midiática, ilegal e duvidosa operação lava-jato.