sábado, 6 de novembro de 2010

Carinhoso – Marisa Monte e Paulinho da Viola

Um pouco de carinho…

Martin Luther Quem?

No começo do mês de abril (2008) foi lembrado em todo o mundo, e principalmente nos EUA, os 40 anos do assassinato de Martin Luther King Jr. Num país onde a imagem do cristianismo vem sendo arranhada pela falta de coerência dos cristãos, a luta deste pastor batista pelos direitos civis, através de uma campanha de não-violência e de amor ao próximo, tocou aquela nação a ponto de mudar conceitos e práticas estabelecidas nas leis, nas mentes e no coração de considerável parcela daquela sociedade.

Tamanho é o respeito e a reverência dos norte-americanos por King, que em 1986 criou-se um feriado nacional com seu nome, o Martin Luther King Day, para representar a luta de muitos pelos direitos dos negros, das mulheres e dos mais pobres. A luta deste pastor negro, nascido no estado da Geórgia, teve influência mundial, fazendo dele o mais jovem ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1964.

O quê a celebração dos 40 anos da morte de King tem a nos dizer hoje enquanto comunidade cristã? Infelizmente, a simples externalização desta pergunta já é um forte indício da distância que guardamos destes líderes quanto às questões cruciais que defenderam e que permanecem tão atuais. Não damos a importância devida a esses líderes porque não reconhecemos suas lutas como parte integrante do evangelho. A mesma Palavra que os motivou a lutar por aquelas questões não desperta em nós constrangimento algum.

Por que somos tão alheios ao que se passa em nossa sociedade e no mundo? Quando foi que nos tornamos tão distantes da realidade? Onde está a voz profética da igreja de Cristo para com os arbítrios da sociedade? Por que nossa espiritualidade não contempla estas questões? Por que não nos importamos, como corpo de Cristo, em combater as raízes dos problemas sociais que afligem nosso país? Por que fazemos ouvidos surdos à Palavra de Deus sempre que esta clama por justiça para os oprimidos? Por que reduzimos o Evangelho a uma faceta puramente espiritual, descolada da realidade, contrária à missão conferida à igreja? Indo, assim, de encontro à verdade bíblica? Por que será que damos tão pouca importância aos profetas, às palavras de Amós e Isaías, por exemplo? Quantas das nossas pregações abordam nosso papel como instrumentos de justiça em meio a uma sociedade corrompida?

A vivência de um evangelho que não ignora a vontade de Deus quanto à justiça, exige de nós uma posição crítica diante dos poderosos e dos que os representam, sejam eles empresários, juízes, políticos, a mídia, ou as próprias leis, sob pena de estarmos afrontando a Deus como cúmplices da opressão e da injustiça. “Aborrecei o mal, e amai o bem, e estabelecei na porta o juízo.” Am 5:15. A porta é o tribunal de justiça. Ao nos convocar para estabelecermos o juízo na porta, Amós aponta para o fato de que a ética, a justiça, o bem-estar social, o cuidado com os mais frágeis e desprotegidos é parte de nossa missão evangelizadora no mundo. A nossa indiferença em relação ao exemplo de vida cristã de homens e mulheres que, a exemplo de King, lutaram para estabelecer na porta o juízo, mostra a distância que temos da real e completa adoração exigida por Deus. A moralidade parcial que surge quando desprezamos a preocupação bíblica pela sociedade testemunha contra nós diante do Justo Juiz.

Abaixo segue versão completa do célebre discurso proferido por King em Washington: “I have a dream!”.

Fala profética de Martin Luther King na véspera de seu assassinato

“Bem, agora não sei o que me acontecerá. Teremos alguns dias muito difíceis pela frente. Não tem importância para mim agora, porque eu já estive no topo da montanha. Não me importo. Como qualquer um, eu gostaria de ter vida longa. Longevidade tem o seu lugar. Mas não estou preocupado com isso agora. Eu só quero fazer a vontade de Deus. E ele tem me deixado ir ao topo da montanha, já posso enxergá-la; eu já vi a terra prometida. Talvez não chegue lá com vocês. Mas quero que saibam hoje à noite, que nós, como povo alcançaremos a terra prometida. Estou feliz nesta noite. Não estou preocupado com nada. Não estou com medo de nenhum homem. Meus olhos já viram a glória da vinda do Senhor.”

Martin Luther King na véspera de sua morte, em abril de 1968
 
Aqui o trecho principal fala:

Aqui a fala integral de King:

Dos (auto) elogios

A lisonja é uma moeda em curso que só tem curso graças a nossa vaidade. Ditado popular

Vaidade, definitivamente meu pecado favorito. Al Pacino, interpretando Lúcifer no filme “O Advogado do Diabo”

Nossa humildade é diariamente testada, e a fraqueza da vaidade está sempre à espreita. É aí que um elogio pode desequilibrar a balança e desarmar o fiel. O elogio deve ser usado com prudência e parcimônia, refletindo se aquele a quem ele é dirigido terá sabedoria para digeri-lo, sem que a simplicidade seja substituída pela soberba. Receber elogios sem comprometer o espírito contrito, requer de nós maturidade espiritual para enxergarmos nossas fraquezas à luz da pureza do Pai, e nossas realizações como obra dele, para a glória dele.                                                              
O tamanho do orçamento, bem como o número de membros, ministérios e missionários podem fazer das igrejas alvos de loas e honrarias sobre os quais não se tem controle algum. O problema nesses elogios está quando se começa a lhes dar muito valor, quando se passa a acreditar que se é realmente bom, merecedor e melhor que os outros. Essa atitude opõe-se à pobreza de espírito que tanto agrada ao Pai. Uma bem-aventurança, que recebeu do Senhor Jesus a própria terra com herança eterna.

Mais triste do que lidar pouco sabiamente com um elogio que vem de fora, é passar a se auto-elogiar, seja como indivíduo, seja como instituição. Neste caso colocamos, nós mesmos, a isca no anzol que irá nos fisgar mais adiante. Qual o intuito de explicitarmos, repetirmos e relembrarmos sempre nossas “qualidades”, nossos “feitos”, nossa “importância”? Se Deus nos permitiu sermos por Ele usados, não nos bastam a consciência e a alegria do dever cumprido junto ao Pai?

Melhor que a prática do auto-elogio (temerária e sem-sentido), seria realizarmos continuamente um diagnóstico das nossas fraquezas e limitações, rogando a Deus misericórdia, humildade, sabedoria e coragem, para identificarmos nossas falhas, aprendermos com nossos erros, e mudarmos de direção.
Cervantes disse que a humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja. Enquanto o ufanismo nos dá a falsa sensação de dever cumprido, de não haver mais o que melhorar, a humildade nos mostra o quão distante estamos do nosso alvo enquanto cristãos – tão desafiador e estimulante ao mesmo tempo – bastando para isso, olhar o papel discreto da igreja na luta para mudar a estrutura pecaminosa que produz a iníqua realidade social do nosso país.

Se nós somos, ou não, relevantes para o Reino, cabe ao SENHOR, e a Ele somente, julgar. Enquanto não chega o grande dia em que o contemplaremos face a face, urge-nos trabalhar árdua e humildemente a fim de cumprir a missão da Igreja, exposta por Cristo quando do sermão da montanha: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai que está nos céus”, e ainda, quando na sinagoga falou, trazendo para si (e para nós, como seu corpo) o cumprimento da promessa do livro de Isaías: “O Espírito do SENHOR está sobre mim, pois o SENHOR me ungiu para levar boas novas aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação aos oprimidos.”

Guardar-se da vaidade é uma necessidade vital para o cristão, como ordenou Jesus: “… não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens…”, “Ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita…” e, “Não seja assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir…”,Mt 20:26-28.

Realizar e apoiar missões são uma benção e um grande privilégio, ao qual nem todas as igrejas têm acesso, mas esse não deve ser o único foco das atenções e recursos. Não está exclusivamente sobre nós a tarefa de levar as boas novas ao mundo. Cristo já tem santos espalhados pelos quatro cantos do planeta, basta que se queira enxergá-los, deixando de lado a soberba de nos acharmos os únicos servos verdadeiramente fiéis. Reflitamos se queremos levar a Água da Vida aos rincões do mundo, ou se queremos levar a nossa própria maneira de ver e de viver o evangelho.

Nos mais variados ramos, raízes, tradições e denominações do cristianismo ao redor da terra há, sempre, em cada um deles, pessoas que amam a Cristo e o têm como senhor de suas vidas. Estas pessoas são também por Ele amadas e usadas na sua seara, independente do fato de termos ou não restrições às suas doutrinas (pois a seara é de Cristo, e não exclusivamente da igreja “a”, “b” ou “c”). Estes são todos cristãos, irmãos, movidos pelo mesmo Espírito e impulsionados pela mesma fé. Crer que somos ouvidos e que servimos de exemplo pelo mundo afora, seria olhar para um horizonte muito estreito da realidade da Igreja de Cristo, crendo-a previsível, limitada e homogênea, quando o Pai prima pela diversidade e pela surpresa no agir.

Para nós, cristãos, mais importante do que exaltar ações e ministérios, é sermos vistos pelos que sofrem não como um grupo alheio às suas angústias e necessidades, mas como um povo que os ama e que se sacrifica por eles, que fala por aqueles cujas vozes nunca são ouvidas, que luta pelos que não têm força nem meios para enfrentar a injustiça, obedecendo assim o mandamento maior que, se negligenciado, torna todos os nossos esforços e ações vazios e sem sentido, como um címbalo que retine.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dez FALSOS motivos para não votar na Dilma

Artur Gueiros: Pessoal, o texto abaixo é um dos melhores e mais completos sobre as eleições. Aproveitei para adicionar alguns comentários.

Abraço,



Dez falsos motivos para não votar na Dilma - Por Jorge Furtado, cineasta

Tenho alguns amigos que não pretendem votar na Dilma, um ou outro até diz que vai votar no Serra. Espero que sigam sendo meus amigos. Política, como ensina André Comte-Sponville, supõe conflitos: “A política nos reúne nos opondo: ela nos opõe sobre a melhor maneira de nos reunir”.

Leio diariamente o noticiário político e ainda não encontrei bons argumentos para votar no Serra, uma candidatura que cada vez mais assume seu caráter conservador. Serra representa o grupo político que governou o Brasil antes do Lula, com desempenho, sob qualquer critério, muito inferior ao do governo petista, a comparação chega a ser enfadonha, vai lá para o pé da página, quem quiser que leia. (1)

Ouço e leio alguns argumentos para não votar em Dilma, argumentos que me parecem inconsistentes, distorcidos, precários ou simplesmente falsos. Passo a analisar os dez mais freqüentes:

1. “Alternância no poder é bom”.
Falso. O sentido da democracia não é a alternância no poder e sim a escolha, pela maioria, da melhor proposta de governo, levando-se em conta o conhecimento que o eleitor tem dos candidatos e seus grupo políticos, o que dizem pretender fazer e, principalmente, o que fizeram quando exerceram o poder. Ninguém pode defender seriamente a idéia de que seria boa a alternância entre a recessão e o desenvolvimento, entre o desemprego e a geração de empregos, entre o arrocho salarial e o aumento do poder aquisitivo da população, entre a distribuição e a concentração da riqueza. Se a alternância no poder fosse um valor em si não precisaria haver eleição e muito menos deveria haver a possibilidade de reeleição. É importante lembrar também que o importante é a possibilidade de alternância, e não alternar por alternar, ainda mais em seu próprio prejuízo.

2. “Não há mais diferença entre direita e esquerda”.
Falso. Esquerda e direita são posições relativas, não absolutas. A esquerda é, desde a sua origem, a posição política que tem por objetivo a diminuição das desigualdades sociais, a distribuição da riqueza, a inserção social dos desfavorecidos. As conquistas necessárias para se atingir estes objetivos mudam com o tempo. Hoje, ser de esquerda significa defender o fortalecimento do estado como garantidor do bem-estar social, regulador do mercado, promotor do desenvolvimento e da distribuição de riqueza, tudo isso numa sociedade democrática com plena liberdade de expressão e ampla defesa das minorias. O complexo (e confuso) sistema político brasileiro exige que os vários partidos se reúnam em coligações que lhes garantam maioria parlamentar, sem a qual o país se torna ingovernável. A candidatura de Dilma tem o apoio de políticos que jamais poderiam ser chamados de “esquerdistas”, como Sarney, Collor ou Renan Calheiros, lideranças regionais que se abrigam principalmente no PMDB, partido de espectro ideológico muito amplo. José Serra tem o apoio majoritário da direita e da extrema-direita reunida no DEM (2), da “direita” do PMDB, além do PTB, PPS e outros pequenos partidos de direita: Roberto Jefferson, Jorge Borhausen, ACM Netto, Orestes Quércia, Heráclito Fortes, Roberto Freire, Demóstenes Torres, Álvaro Dias, Arthur Virgílio, Agripino Maia, Joaquim Roriz, Marconi Pirilo, Ronaldo Caiado, Katia Abreu, André Pucinelli, são todos de direita e todos serristas, isso para não falar no folclórico Índio da Costa, vice de Serra. Comparado com Agripino Maia ou Jorge Borhausen, José Sarney é Che Guevara.

3. “Dilma não é simpática”(?).
Argumento precário e totalmente subjetivo. Precário porque a simpatia não é, ou não deveria ser, um atributo fundamental para o bom governante. Subjetivo, porque o quesito “simpatia” depende totalmente do gosto do freguês. Na minha opinião, por exemplo, é difícil encontrar alguém na vida pública que seja mais antipático que José Serra, embora ele talvez tenha sido um bom governante de seu estado (Que o digam os professores e policiais paulistas, tratados a cacetetes e salários baixos, além dos moradores dos bairros até hoje alagados pela irresponsabilidade serrista, devidamente acobertada pela impren$a local). Sua arrogância com quem lhe faz críticas, seu destempero e prepotência com jornalistas, especialmente com as mulheres, chega a ser revoltante.


4. “Dilma não tem experiência”.
Argumento inconsistente. Dilma foi secretária de estado, foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, fez parte do conselho da Petrobras, gerenciou com eficiência os gigantescos investimentos do PAC, dos programas de habitação popular e eletrificação rural (Luz pra Todos). Dilma tem muito mais experiência administrativa, por exemplo, do que tinha o Lula, que só tinha sido parlamentar, nunca tinha administrado um orçamento, e está fazendo um bom governo (Bom e Ótimo para 80% da população, regular para 16%, o de FHC tinha aprovação em torno de 20% no final do segundo mandato).

5. “Dilma foi terrorista” (foi contra os assassinos).

Argumento em parte falso, em parte distorcido. Falso, porque não há qualquer prova de que Dilma tenha tomado parte de ações “terroristas”. Distorcido, porque é fato que Dilma fez parte de grupos de resistência à ditadura militar, do que deve se orgulhar, e que este grupo praticou ações armadas, o que pode (ou não) ser condenável. José Serra também fez parte de um grupo de resistência à ditadura, a AP (Ação Popular), que também praticou ações armadas, das quais Serra não tomou parte. Muitos jovens que participaram de grupos de resistência à ditadura hoje participam da vida democrática como candidatos. Alguns, como Fernando Gabeira, participaram ativamente de seqüestros, assaltos a banco e ações armadas. A luta daqueles jovens, mesmo que por meios discutíveis, ajudou a restabelecer a democracia no país e deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha. Atentem para a canalhice da mídia e a ingenuidade das pessoas. Em que momento a imprensa explorou o passado de Gabeira? A própria exploração negativa da luta contra a ditadura é ridícula. Na França, Jean Moulin é considerado um dos maiores heróis nacionais justamente porque combateu a ditadura nazista em seu país - durante o governo Vichista. Em todo o mundo pessoas que se opõem às ditaduras são consideradas heróis, no Brasil dominado pela mídia golpista, são consideradas terroristas.

6. “As coisas boas do governo petista começaram no governo tucano” (mentira).

Falso. Todo governo herda políticas e programas do governo anterior, políticas que pode manter, transformar, ampliar, reduzir ou encerrar. O governo FHC herdou do governo Itamar o real, o programa dos genéricos, o FAT, o programa de combate a AIDS. Teve o mérito de manter e aperfeiçoá-los, desenvolvê-los, ampliá-los. O governo Lula herdou do governo FHC, por exemplo, vários programas de assistência social. Teve o mérito de unificá-los e ampliá-los, criando o Bolsa Família. De qualquer maneira, os resultados do governo Lula são tão superiores aos do governo FHC que o debate “quem começou o quê” torna-se irrelevante. O Luz pra Todos começou com FHC? o Minha Casa Minha Vida? O PAC? Os Territórios da Cidadania? O Prouni? As 214 escolas técnicas? A expansão das universidades para o interior? A melhoria do salário e da carreira dos professores universitários? A valorização dos quilombolas? As 77 Conferências Nacionais onde a sociedade civil discute, debate e propõem políticas públicas sobre os vários assuntos que nos afetam a todos, aprofundando assim o conceito e a prática de democracia? A política de redistribuição mais equânime dos investimentos nacionais, contemplando o Norte e o Nordeste como jamais foi feito? Todas estas práticas foram criadas pelo governo Lula, nenhuma das supracitadas originou-se no governo de FHC e Serra. Falar de continuidade entre FHC e Lula, é reduzir a realidade a ponto de ignorá-la completamente, viver num mundo paralelo, de preconceito irracional, que não admite que um pobre, não-universitário, tenha sido muito superior ao doutor da Sorbonne. É uma maneira nova de querer perpetuar algo velho: o conceito de superioridade, de nobreza, que sempre surge nas sociedades, com o intuito de criar subclasses, para que alguns possam se achar melhor, superior a outros. Para isso usa-se a cor (segregação racial nos EUA e Africa do Sul), a classe social (Rico x Pobre), o gênero, a raça (Nazistas x Judeus) e a escolaridade (Com diploma x Sem diploma); O que importa é que eu ache que sou melhor que alguém, mesmo que por um motivo irracional. Engraçado, é o exato oposto do que o evangelho propõe, a não-acepção de pessoas, o serviço, o resgate e a libertação dos mais frágeis, a união, o amor.

7. “Serra vai moralizar a política” (ridículo).

Argumento inconsistente. Nos oito anos de governo tucano-pefelista - no qual José Serra ocupou papel de destaque, sendo escolhido para suceder FHC - foram inúmeros os casos de corrupção, um deles no próprio Ministério da Saúde, comandado por Serra, o superfaturamento de ambulâncias investigado pela “Operação Sanguessuga”. Se considerarmos o volume de dinheiro público desviado para destinos nebulosos e paraísos fiscais nas privatizações e o auxílio luxuoso aos banqueiros falidos, o governo tucano talvez tenha sido o mais corrupto da história do país. Ao contrário do que aconteceu no governo Lula, a corrupção no governo FHC não foi investigada por nenhuma CPI, todas sepultadas pela maioria parlamentar da coligação PSDB-PFL. O procurador da república ficou conhecido com “engavetador da república”, tal a quantidade de investigações criminais que morreram em suas mãos. O esquema de financiamento eleitoral batizado de “mensalão” foi criado pelo presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo, hoje réu em processo criminal. O governador José Roberto Arruda, do DEM, era o principal candidato ao posto de vice-presidente na chapa de Serra, até ser preso por corrupção no “mensalão do DEM”. Roberto Jefferson, réu confesso do mensalão petista, hoje apóia José Serra. Todos estes fatos, incontestáveis, não indicam que um eventual governo Serra poderia ser mais eficiente no combate à corrupção do que seria um governo Dilma, ao contrário. Vale salientar que a moralização se dá não apenas por indivíduos, mas também pelas instituições que investigam, coibem e punem a corrupção. O governo Lula foi disparado o que mais valorizou tais instituições, PF, CGU, TCU, MP, seja através de aumento do efetivo, quanto de valorização das carreiras.

8. “O PT apóia as FARC” (mais ridículo ainda).

Argumento falso. É fato que, no passado, as FARC ensaiaram uma tentativa de institucionalização e buscaram aproximação com o PT, então na oposição, e também com o governo brasileiro, através de contatos com o líder do governo tucano, Arthur Virgílio. Estes contatos foram rompidos com a radicalização da guerrilha na Colômbia e nunca foram retomados, a não ser nos delírios da imprensa de extrema-direita. A relação entre o governo brasileiro e os governos estabelecidos de vários países deve estar acima de divergências ideológicas, num princípio básico da diplomacia, o da auto-determinação dos povos. Não há notícias, por exemplo, de capitalistas brasileiros que defendam o rompimento das relações com a China, um dos nossos maiores parceiros comerciais, por se tratar de uma ditadura. Ou alguém acha que a China é um país democrático? Alguém (inclusive a mídia) reclama do negócios que os EUA ou o Brasil mantém com a Arábia Saudita, ou o turismo na ditadura de Dubai? Para variar, dois pesos e duas medidas. A coerência passa longe. Há seletividade na condenção, por interesses comerciais ou ideológicos (neoliberais contra Venezuela, Cuba, etc).

9. “O PT censura a imprensa” (mentira, a imprensa que o censura).
Argumento falso. Em seus oito anos de governo o presidente Lula enfrentou a oposição feroz e constante dos principais veículos da antiga imprensa. Esta oposição foi explicitada pela presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que declarou que seus filiados assumiram “a posição oposicionista (sic) deste país”. Não há registro de um único caso de censura à imprensa por parte do governo Lula. O que há, frequentemente, é a queixa dos órgãos de imprensa sobre tentativas da sociedade e do governo, a exemplo do que acontece em todos os países democráticos do mundo, de regulamentar a atividade da mídia.

10. “Os jornais, a televisão e as revistas falam muito mal da Dilma e muito bem do Serra”.
Isso é verdade. E mais um bom motivo para votar nela e não nele. Ótimo critério, raras vezes falha. Se a Veja, a Folha e o JN apoiarem algo, desconfie.




FATOS MUITO IMPORTANTES:

(1) Alguns dados comparativos dos governos FHC e Lula.

Geração de empregos:
FHC/Serra = 780 mil x Lula/Dilma = 12 milhões

Salário mínimo:
FHC/Serra = 64 dólares x Lula/Dilma = 290 dólares

Mobilidade social (brasileiros que deixaram a linha da pobreza):
FHC/Serra = 2 milhões x Lula/Dilma = 27 milhões

Risco Brasil:
FHC/Serra = 2.700 pontos x Lula/Dilma = 200 pontos

Dólar:
FHC/Serra = R$ 3,00 x Lula/Dilma = R$ 1,78

Reservas cambiais:
FHC/Serra = 185 bilhões de dólares negativos x Lula/Dilma = 239 bilhões de dólares positivos.

Relação crédito/PIB:
FHC/Serra = 14% x Lula/Dilma = 34%

Produção de automóveis:
FHC/Serra = queda de 20% x Lula/Dilma = aumento de 30%

Taxa de juros:
FHC/Serra = 27% x Lula/Dilma = 10,75%

(2) Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo de 25.07.10:

José Serra começou sua campanha dizendo: "Não aceito o raciocínio do nós contra eles", e em apenas dois meses viu-se lançado pelo seu colega de chapa numa discussão em torno das ligações do PT com as Farc e o narcotráfico. Caso típico de rabo que abanou o cachorro. O destempero de Indio da Costa tem método. Se Tupã ajudar Serra a vencer a eleição, o DEM volta ao poder. Se prejudicar, ajudando Dilma Rousseff, o PSDB sairá da campanha com a identidade estilhaçada. Já o DEM, que entrou na disputa com o cocar do seu mensalão, sairá brandindo o tacape do conservadorismo feroz que renasceu em diversos países, sobretudo nos Estados Unidos.

*Um dos mais respeitados cineastas brasileiros, Jorge Alberto Furtado, 51 anos, trabalhou como repórter, apresentador, editor, roteirista e produtor. Já realizou mais de 30 trabalhos como roteirista/diretor e recebeu 13 premiações dentre os quais, o Prêmio Cinema Brasil, em 2003, de melhor diretor e de melhor roteiro original do longa O homem que copiava.

DIA 31/10, DILMA PARA PRESIDENTE!

sábado, 9 de outubro de 2010

Cristianismo e Política

A demonstração constrangedora de ingenuidade da igreja - dando eco a boatos e mentiras - com graves consequencias para o país, é uma comprovação do que a ausencia de senso crítico pode fazer. O evangelho, por ser vivo, precisa de contínua reflexão para se revelar sempre atual e livre de manipulações.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-palavra-do-pastor-prebisteriano

Segue abaixo, o artigo Cristianismo e Política:

O Evangelho, o senhorio de Cristo, se espraia por todos os aspectos de nossas vidas. Tudo pode e deve ser utilizado pelo cristão como instrumento de graça, como materialização do amor: um sorriso, um email, um olhar, um blog, um livro, um tweet, um abraço, um olá e, da mesma forma, a política. Ela nada mais é do que a ferramenta na qual as relações de poder se estabelecem; não se restringe a voto, candidatos, congresso etc, mas abrange o nosso dia-a-dia, nossas decisões, nossos posicionamentos.

O partido de Cristo é o Reino, seus valores são o parâmetro, e o objetivo final é a glória de Deus. Num estado democrático, a política é o instrumento pelo qual se dão as maiores e mais abrangentes transformações para o país. Toda e qualquer demanda ou pressão exercida pelos diversos atores sociais tem, necessariamente, que desembocar na política institucional para que tome forma legal atingindo, assim, todos os cidadãos. Como servos do Altíssimo, deveríamos buscar desenvolver um maior interesse pela política, explorar seu potencial como instrumento de transformação da realidade, refletindo os valores de Deus na sociedade.

A política deve ser cuidada pelos cristãos, aperfeiçoada, bem utilizada, e não, desdenhada. O fato de candidatos e partidos caírem em erro, não deveria nos surpreender; não temos nenhuma ilusão quanto ao estado de total depravação do homem e à luta contínua contra o pecado que tenazmente nos assedia. Pelo contrário, nossa relação com Deus - ao expor nossas fraquezas - nos impulsiona a aperfeiçoar a política, de maneira a dificultar que a ganância, a vaidade e o egoísmo humanos tenham espaço nas estruturas econômicas e sociais, gerando fome, miséria e dor. Nosso relacionamento com o Pai deve nos mover para políticas públicas que corrijam a vil miséria que insulta os céus, caso contrário, as pedras continuarão clamando, e o Senhor continuará usando outros para realizar a tarefa que nos foi endereçada. Multipliquemos, pois, o talento que nos foi confiado. Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros. Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.

Preocupamo-nos mais com as conseqüências - aborto e união homossexual, por exemplo - do que com as causas - objetização da mulher na mídia, desagregação familiar, tráfico de seres humanos, qualidade dos programas de TV, desigualdade e opressão no campo e na cidade, exploração no trabalho, impostos injustos, juros bancários extorsivos, destruição da natureza etc. Enquanto Corpo de Cristo, temos que ser a materialização do amor de Deus na sociedade que nos cerca (na qual deveríamos estar inseridos), mostrando através das boas obras - “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” -, que Deus se importa e que tem um plano melhor para o mundo. O Eterno exige que identifiquemos o mal (Informa-se o justo da causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer saber. Pv. 29:7) e o combatamos, onde quer que este se manifeste, pois praticar a justiça é alegria para o justo, mas espanto, para os que praticam a iniquidade. Pv 21:15

Aborrecer o mal e colocar-se como prumo na construção de uma sociedade mais justa (Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos... Is 10:1,2.) e mais amorosa (O lobo habitará com o cordeiro,...; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará.Is 11:6) é um papel do qual não podemos nos furtar, e para o qual precisamos cultivar senso crítico e discernimento, fundamentais para a compreensão e a prática do Evangelho. A falta destes costuma gerar uma fé supersticiosa, cheia de medo, de dogmas e de autoritarismo, distinta da fé dinâmica vivida e pregada pelos reformadores (Ecclesia reformata semper reformanda).

Quando a igreja não tem discernimento histórico do seu papel, do que se passa no mundo, das correlações de força, das relações de causa e conseqüência, quando falta profecia (Pv 29:18), ela se afasta do pleno testemunho de Cristo. A Palavra e a história mostram que nem sempre a presença da igreja indica a presença de Jesus. Os tristes exemplos das igrejas segregacionistas no sul dos EUA e na África do Sul, bem como as igrejas que apoiaram e deram suporte aos golpes militares na América Latina revelam isto. Se temos hoje dificuldade em entender nosso papel e compromisso diante da injusta realidade brasileira, a resposta se encontra em parte na nossa própria história eclesial, que sepultou, a duros golpes, o pensamento crítico e a reflexão, fazendo com que os erros do passado se tornassem os dogmas que engessam a compreensão e transformação do presente. Cabe-nos trazê-los (crítica e reflexão) à vida novamente, para que o Senhor nos guie pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. Pois em Cristo, um outro mundo é possível.

Artur Leonardo Gueiros Barbosa

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pais e filhos

Quando eu era filho em companhia de meu pai, então ele me ensinava e me dizia: Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos e vive. Pv. 4: 3,4.

Filhos rebeldes, desrespeitosos, afastados de Deus, sendo seduzidos pelo mundo é algo que sempre existiu e que nunca deixou de ser alvo da angústia paterna e materna. No entanto, faz-se necessário diferenciar quando os problemas com os filhos surgem em lares cuja educação procura refletir a Cristo e a palavra de Deus, de quando os problemas são fruto de incoerência, de mau exemplo, de uma disciplina descuidada, frouxa, que despreza a Sabedoria (Sl. 19:7). No primeiro caso, o problema surge apesar da criação, já no segundo, por causa dela.



Infelizmente, tem se tornado uma cena comum hoje em dia testemunhar crianças - de todas as idades - responderem aos pais, aos avós, ofendendo-os, sem serem repreendidos ou disciplinados. Tem sido usual até mesmo a inversão de papéis, com os filhos mandando nos pais, determinando as suas vontades, quando e como as querem ver atendidas. É triste ver que muitos pais, desprezando diariamente o fiel testemunho cristão para com seus filhos - omitindo a disciplina e a repreensão (Pv. 3:12; 13:24)-, procuram ensinar-lhes cacoetes religiosos, mandamentos de homens (Mc. 7:13; Is. 29:13), com entusiasmo inverso àquele que usam para dar aos seus filhos um exemplo de relacionamento profundo, verdadeiro e sincero com o Senhor.

Um pequeno exemplo que serve para ilustrar o equívoco cometido por muitos pais é o uso de nome de Deus em vão. Algo que seria impensável dentro da comunidade cristã há quinze, vinte anos atrás, hoje se tornou corriqueiro entre os crentes de todas as idades, homens, mulheres e sacerdotes (os institucionais e todos nós, como parte do corpo de Cristo). É como se o mandamento tivesse sido apagado da Palavra, como se Jeová, o Redentor, o Santo de Israel (Is. 48:17) não precisasse mais ser alvo da nossa reverência e temor. Pais que dão exemplo em casa e na rua têm muito mais condições de verem suas instruções obedecidas pelos filhos do que aqueles que são incoerentes.

Saindo da infância e analisando da pré-adolescência à vida adulta, percebe-se que o exemplo e a coerência paterna (pai e mãe), em existindo, abrem as portas para outras ações que ajudam bastante no amadurecimento de um lar cristão saudável. Duas dessas ações são a abertura dos filhos para com os pais e a possibilidade de o filho ver-se desafiado em sua vida a realizar um propósito eterno.

Aqui, o exemplo do rei Lemuel - explicitado no último capítulo de Provérbios - é emblemático. Nele, vemos que os conselhos de sua mãe não apenas alertam o rei sobre situações e hábitos que podem levá-lo a esquecer-se do querer de Deus, mais principalmente o impulsionam à ação, o impedem de seguir no imobilismo e na falta de sentido, os quais são porta aberta para as tentações, as quedas e o conseqüente distanciamento de Deus.

Abre a boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados. Abre a boca, julga retamente e faze justiça aos pobres e aos necessitados.
Pv. 31:8,9

O exemplo de Lemuel e sua mãe nos mostra a importância de um viver cristão que vai além do pietismo, que atenta para a Palavra sem seletividade, que se enxerga como agente transformador do mundo, para a Glória de Deus. A tarefa de fazer o mundo refletir os valores do Reino está sobre nós, Corpo de Cristo e a percepção desta enorme responsabilidade, sobretudo diante de uma realidade de injustiça, miséria e opressão como a que temos à nossa volta, faz com que nossos pensamentos, palavras e ações estejam voltados para cumprir a vontade de Deus na terra em todo o tempo.

Assim, focados no que realmente importa, pondo-nos como obstáculo a todo o mal (Pv.8:13), e sem nos escondermos do nosso semelhante (Is. 58:7; Pv. 3:27), percebemos que pensamentos sombrios, tentações, fraquezas e desilusões empalidecem, não deixam de existir, mas perdem a força e a importância de outrora. Diante de uma vida de oração, amor pela palavra (Sl. 119:16-19), e ação que transforma a si próprio, ao próximo, e à realidade em seu entorno, as possibilidades de se deixar enlaçar decrescem na mesma proporção em que o relacionamento com o Pai amadurece. Filhos que antes seriam tentados a tomar a forma deste século passam a se perceber como revolucionários de Deus, atuantes incansáveis na vivência e construção do seu Reino. O propósito transformador dá o tom de uma vida plena, em Cristo.

O exemplo dá mais poder à palavra, a sabedoria (apesar de exigir dos pais paciência e fé) é mais eficaz que o legalismo, o cumprimento do grande mandamento inspira, impulsiona e renova, enquanto que a alienação traz amargura, desnorteia, desanima e enfraquece.

Esta reflexão foi escrita por alguém que foi sempre disciplinado com amor, por amor e no amor, e que percebe os benefícios trazidos por essa disciplina fruto do temor dos pais pelo Senhor; alguém que aprendeu com os próprios pais a não colocar nada antes de Deus, nem mesmo os filhos. E que, por isso mesmo, pode hoje alegrar-se com a bendita herança espiritual recebida.