sábado, 6 de novembro de 2010

Carinhoso – Marisa Monte e Paulinho da Viola

Um pouco de carinho…

Martin Luther Quem?

No começo do mês de abril (2008) foi lembrado em todo o mundo, e principalmente nos EUA, os 40 anos do assassinato de Martin Luther King Jr. Num país onde a imagem do cristianismo vem sendo arranhada pela falta de coerência dos cristãos, a luta deste pastor batista pelos direitos civis, através de uma campanha de não-violência e de amor ao próximo, tocou aquela nação a ponto de mudar conceitos e práticas estabelecidas nas leis, nas mentes e no coração de considerável parcela daquela sociedade.

Tamanho é o respeito e a reverência dos norte-americanos por King, que em 1986 criou-se um feriado nacional com seu nome, o Martin Luther King Day, para representar a luta de muitos pelos direitos dos negros, das mulheres e dos mais pobres. A luta deste pastor negro, nascido no estado da Geórgia, teve influência mundial, fazendo dele o mais jovem ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1964.

O quê a celebração dos 40 anos da morte de King tem a nos dizer hoje enquanto comunidade cristã? Infelizmente, a simples externalização desta pergunta já é um forte indício da distância que guardamos destes líderes quanto às questões cruciais que defenderam e que permanecem tão atuais. Não damos a importância devida a esses líderes porque não reconhecemos suas lutas como parte integrante do evangelho. A mesma Palavra que os motivou a lutar por aquelas questões não desperta em nós constrangimento algum.

Por que somos tão alheios ao que se passa em nossa sociedade e no mundo? Quando foi que nos tornamos tão distantes da realidade? Onde está a voz profética da igreja de Cristo para com os arbítrios da sociedade? Por que nossa espiritualidade não contempla estas questões? Por que não nos importamos, como corpo de Cristo, em combater as raízes dos problemas sociais que afligem nosso país? Por que fazemos ouvidos surdos à Palavra de Deus sempre que esta clama por justiça para os oprimidos? Por que reduzimos o Evangelho a uma faceta puramente espiritual, descolada da realidade, contrária à missão conferida à igreja? Indo, assim, de encontro à verdade bíblica? Por que será que damos tão pouca importância aos profetas, às palavras de Amós e Isaías, por exemplo? Quantas das nossas pregações abordam nosso papel como instrumentos de justiça em meio a uma sociedade corrompida?

A vivência de um evangelho que não ignora a vontade de Deus quanto à justiça, exige de nós uma posição crítica diante dos poderosos e dos que os representam, sejam eles empresários, juízes, políticos, a mídia, ou as próprias leis, sob pena de estarmos afrontando a Deus como cúmplices da opressão e da injustiça. “Aborrecei o mal, e amai o bem, e estabelecei na porta o juízo.” Am 5:15. A porta é o tribunal de justiça. Ao nos convocar para estabelecermos o juízo na porta, Amós aponta para o fato de que a ética, a justiça, o bem-estar social, o cuidado com os mais frágeis e desprotegidos é parte de nossa missão evangelizadora no mundo. A nossa indiferença em relação ao exemplo de vida cristã de homens e mulheres que, a exemplo de King, lutaram para estabelecer na porta o juízo, mostra a distância que temos da real e completa adoração exigida por Deus. A moralidade parcial que surge quando desprezamos a preocupação bíblica pela sociedade testemunha contra nós diante do Justo Juiz.

Abaixo segue versão completa do célebre discurso proferido por King em Washington: “I have a dream!”.

Fala profética de Martin Luther King na véspera de seu assassinato

“Bem, agora não sei o que me acontecerá. Teremos alguns dias muito difíceis pela frente. Não tem importância para mim agora, porque eu já estive no topo da montanha. Não me importo. Como qualquer um, eu gostaria de ter vida longa. Longevidade tem o seu lugar. Mas não estou preocupado com isso agora. Eu só quero fazer a vontade de Deus. E ele tem me deixado ir ao topo da montanha, já posso enxergá-la; eu já vi a terra prometida. Talvez não chegue lá com vocês. Mas quero que saibam hoje à noite, que nós, como povo alcançaremos a terra prometida. Estou feliz nesta noite. Não estou preocupado com nada. Não estou com medo de nenhum homem. Meus olhos já viram a glória da vinda do Senhor.”

Martin Luther King na véspera de sua morte, em abril de 1968
 
Aqui o trecho principal fala:

Aqui a fala integral de King:

Dos (auto) elogios

A lisonja é uma moeda em curso que só tem curso graças a nossa vaidade. Ditado popular

Vaidade, definitivamente meu pecado favorito. Al Pacino, interpretando Lúcifer no filme “O Advogado do Diabo”

Nossa humildade é diariamente testada, e a fraqueza da vaidade está sempre à espreita. É aí que um elogio pode desequilibrar a balança e desarmar o fiel. O elogio deve ser usado com prudência e parcimônia, refletindo se aquele a quem ele é dirigido terá sabedoria para digeri-lo, sem que a simplicidade seja substituída pela soberba. Receber elogios sem comprometer o espírito contrito, requer de nós maturidade espiritual para enxergarmos nossas fraquezas à luz da pureza do Pai, e nossas realizações como obra dele, para a glória dele.                                                              
O tamanho do orçamento, bem como o número de membros, ministérios e missionários podem fazer das igrejas alvos de loas e honrarias sobre os quais não se tem controle algum. O problema nesses elogios está quando se começa a lhes dar muito valor, quando se passa a acreditar que se é realmente bom, merecedor e melhor que os outros. Essa atitude opõe-se à pobreza de espírito que tanto agrada ao Pai. Uma bem-aventurança, que recebeu do Senhor Jesus a própria terra com herança eterna.

Mais triste do que lidar pouco sabiamente com um elogio que vem de fora, é passar a se auto-elogiar, seja como indivíduo, seja como instituição. Neste caso colocamos, nós mesmos, a isca no anzol que irá nos fisgar mais adiante. Qual o intuito de explicitarmos, repetirmos e relembrarmos sempre nossas “qualidades”, nossos “feitos”, nossa “importância”? Se Deus nos permitiu sermos por Ele usados, não nos bastam a consciência e a alegria do dever cumprido junto ao Pai?

Melhor que a prática do auto-elogio (temerária e sem-sentido), seria realizarmos continuamente um diagnóstico das nossas fraquezas e limitações, rogando a Deus misericórdia, humildade, sabedoria e coragem, para identificarmos nossas falhas, aprendermos com nossos erros, e mudarmos de direção.
Cervantes disse que a humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja. Enquanto o ufanismo nos dá a falsa sensação de dever cumprido, de não haver mais o que melhorar, a humildade nos mostra o quão distante estamos do nosso alvo enquanto cristãos – tão desafiador e estimulante ao mesmo tempo – bastando para isso, olhar o papel discreto da igreja na luta para mudar a estrutura pecaminosa que produz a iníqua realidade social do nosso país.

Se nós somos, ou não, relevantes para o Reino, cabe ao SENHOR, e a Ele somente, julgar. Enquanto não chega o grande dia em que o contemplaremos face a face, urge-nos trabalhar árdua e humildemente a fim de cumprir a missão da Igreja, exposta por Cristo quando do sermão da montanha: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai que está nos céus”, e ainda, quando na sinagoga falou, trazendo para si (e para nós, como seu corpo) o cumprimento da promessa do livro de Isaías: “O Espírito do SENHOR está sobre mim, pois o SENHOR me ungiu para levar boas novas aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação aos oprimidos.”

Guardar-se da vaidade é uma necessidade vital para o cristão, como ordenou Jesus: “… não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens…”, “Ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita…” e, “Não seja assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir…”,Mt 20:26-28.

Realizar e apoiar missões são uma benção e um grande privilégio, ao qual nem todas as igrejas têm acesso, mas esse não deve ser o único foco das atenções e recursos. Não está exclusivamente sobre nós a tarefa de levar as boas novas ao mundo. Cristo já tem santos espalhados pelos quatro cantos do planeta, basta que se queira enxergá-los, deixando de lado a soberba de nos acharmos os únicos servos verdadeiramente fiéis. Reflitamos se queremos levar a Água da Vida aos rincões do mundo, ou se queremos levar a nossa própria maneira de ver e de viver o evangelho.

Nos mais variados ramos, raízes, tradições e denominações do cristianismo ao redor da terra há, sempre, em cada um deles, pessoas que amam a Cristo e o têm como senhor de suas vidas. Estas pessoas são também por Ele amadas e usadas na sua seara, independente do fato de termos ou não restrições às suas doutrinas (pois a seara é de Cristo, e não exclusivamente da igreja “a”, “b” ou “c”). Estes são todos cristãos, irmãos, movidos pelo mesmo Espírito e impulsionados pela mesma fé. Crer que somos ouvidos e que servimos de exemplo pelo mundo afora, seria olhar para um horizonte muito estreito da realidade da Igreja de Cristo, crendo-a previsível, limitada e homogênea, quando o Pai prima pela diversidade e pela surpresa no agir.

Para nós, cristãos, mais importante do que exaltar ações e ministérios, é sermos vistos pelos que sofrem não como um grupo alheio às suas angústias e necessidades, mas como um povo que os ama e que se sacrifica por eles, que fala por aqueles cujas vozes nunca são ouvidas, que luta pelos que não têm força nem meios para enfrentar a injustiça, obedecendo assim o mandamento maior que, se negligenciado, torna todos os nossos esforços e ações vazios e sem sentido, como um címbalo que retine.